A Prefeitura adquiriu novos veículos para o transporte urbano. A maioria para uma substituição adequada, considerando os tantos anos dos autocarros circulando, num desgaste diário. Outros, para aumentar a frota, tendo em vista o acréscimo da população que, diariamente, se utiliza desse meio de transporte para seus deslocamentos.
Naquela manhã, a senhora aguardava no ponto de autocarro. Como seu destino era o centro da cidade, nada melhor do que aguardar o amarelinho, cor da linha convencional, que faz o trajecto bairro – centro.
Mais rápido e com a possibilidade de realizar todo o percurso sentada, o que é sempre uma glória.
Viu o autocarro se aproximando. Não era o amarelinho e ela não sinalizou para que ele parasse.
No entanto, o veículo parou, a porta se abriu e ela viu o mesmo motorista, aquele gentil, de mais de trinta anos de condução.
Não vai entrar? – Perguntou ele.
E ela, surpresa: O que você está fazendo neste autocarro?
Trocou a cor, explicou ele, mas é a linha convencional. Suba.
Nossa, se você não tivesse aberto a porta, eu ficaria ali esperando uma eternidade. Nunca olho para o letreiro. Para mim, a identificação é a cor.
E o motorista explicou sobre a nova cor que passara a integrar parte da frota urbana renovada. Interessante que, em cada ponto, onde José Luís identificava passageiros habituais, ele parava. Poucos se davam conta de que era a linha convencional, habituados a se orientarem pela cor.
Ah, se não fosse aquele motorista gentil, que imaginou a confusão para muitas cabecinhas... Diga-se, não somente para as pessoas idosas. Também para jovens, homens maduros.
O que desejamos salientar é a gentileza desse motorista, a prestação de serviço além do dever. Sua tarefa é dirigir, conduzir as pessoas em segurança. É parar, quando solicitado, para as subidas e descidas dos passageiros. Mas como uma pessoa preocupada com o bem-estar alheio, como cidadão que deseja servir ao outro cidadão, ele para, esclarece, sorri e convida: Vamos entrando.
Num desses dias iniciais da troca da cor, uma idosa foi surpreendida pela parada e o convite para entrar.
Convencida, subiu os degraus e foi falando alto: Tudo novo, é? Logo, logo, porque o autocarro é novo não vão querer mais levar a velharia. Vão deixar a gente aí mesmo.
A risada foi geral.
Ainda e sempre bem humorado, respondeu o motorista: Eu é que preciso me preocupar. Imagine a senhora se a empresa resolver dispensar os motoristas velhos da frota nova. Aí, quem vai dançar, sou eu.
Novos risos e comentários surgiram de uns e de outros.
Bom, o autocarro mudou de cor, mas só de cor. A gentileza, o trato do especial motorista do antigo amarelinho continua a mesma. Ele é dessas pessoas que fazem a grande diferença! Tornam um dia cinzento, de chuvisco prolongado e frio em um raio de sol de alegria, com seu sorriso, sua atenção e seus comentários.
Obrigado, motorista. Quando você decidir se aposentar, sentiremos muito sua falta.