A noite era de estrelas e luar. Na Terra, uma vez mais, o Mestre escolhia residência humilde para trazer lição inesquecível. Dessa vez, não era a estalagem singela onde poucos animais puderam ouvir o canto de gratidão de uma mãe e de um pai. Nessa noite, era a casa de um pescador, aquele que atendera, prontamente, ao Seu convite: Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens. A casa de Simão Pedro jamais seria a mesma...
Como se desejasse imprimir novo rumo às conversas, que estavam improdutivas e nada edificantes, Jesus expôs com bondade: O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum. A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações?
Se não nos habituamos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o eterno Pai que nos parece distante?
Jesus passeou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e continuou: Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência fraterna, uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no pensamento?
O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo, nos envia a luz através do céu. Se a claridade é a expansão dos raios que a constituem, a fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi iniciado sobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos animais.
Naquele instante, Jesus propunha, com muita naturalidade, a prática da reflexão dos textos sagrados dentro do lar. Lembrando que à época não havia livros; as leituras dos textos da Torá eram realizadas nas sinagogas e ainda, apenas os homens tinham acesso ao conteúdo da chamada lei e os profetas. Quando Jesus propõe essa prática doméstica, Ele altera esse panorama. Jesus propunha uma conversa regular, dentro de casa, sobre os textos da lei, o que muitos conhecemos como Evangelho no lar, no qual nos servimos das lições do próprio Cristo para enriquecer as conversações. Jesus não lhe deu nome. Não o rotulou. Propôs, apenas, que fosse um momento em família, em que todos, na casa, pudessem ter voz, pudessem expor suas ideias e também pudessem ouvir. Em todos os cultos realizados na casa de Pedro, o Mestre demonstrou o quanto sabia escutar, mesmo sendo Ele o Caminho, a Verdade e a Vida. Sigamos mais esse exemplo. Guardemos um momento semanal na rotina de nosso lar para a oração e breve leitura de texto do livro da vida. Depois, permitamos que todos, crianças, jovens e adultos, se manifestem, dizendo de como aqueles ditos lhes falam ao coração. Perceberemos o quanto de doçura e de entendimento existe nos corações dos que nos compõem o lar. E, mais do que tudo, verificaremos os benefícios que esse encontro semanal trará ao nosso lar.
A paz no mundo começa com a paz no lar.