Da minha aldeia vejo quanto da Terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Alberto Caieiro, personagem criado pelo poeta português Fernando Pessoa, apresenta uma visão muito interessante sobre a vida. Quando proclama que somos do tamanho do que vemos, ensina que é nossa compreensão sobre o viver que nos faz grandes ou pequenos.
Ser grande não é ser alto, rico, famoso ou intelectualizado: ser grande é ser bom, no sentido de atuar como agente do bem na Terra. Ser grande é poder compreender a vida como passageira, transitória, e já aceitar a ideia de sermos algo muito maior do que um corpo com uma mente que pensa.
Somos Espíritos vestindo mais um corpo, mais uma vez. Sim, esta não é nossa primeira vida e certamente não será a última. Ser grande é enxergar a vida futura, é planejar os dias pensando no que é melhor para nosso desenvolvimento espiritual e não material apenas. Sendo grandes enxergamos longe. Pequeno, só o chão à nossa frente.
A vida agitada e, por vezes, neurótica, das grandes cidades nos faz pequenos, pois sequer lembramos de parar para respirar – respirar com intenção, com qualidade. Esquecemos de olhar para o lado, de perceber a vida pulsante das árvores estendidas sobre as ruas repletas de veículos apressados. Esquecemos de fechar os olhos, olhar para o sol e, por alguns instantes, deixá-lo envolver nosso rosto cansado de tantas preocupações. Quando nos damos tempo de meditação, fechando os olhos de fora e ampliando a visão de dentro, estamos nos fazendo gigantes. Podemos nos ver do alto, podemos nos ver de longe.
Somos, sim, do tamanho do que vemos. E se andamos vendo muito chão e muitas paredes frias, estamos reduzidos a essa pequenez instantânea. Mas se estamos vendo céu, verde, flores e corações irmãos, sentindo-os verdadeiramente como irmãos de jornada, estamos nos fazendo grandes.
Assim, não nos permitamos ser engolidos pela rotina aprisionadora. Não nos permitamos automatizar todos os atos, pensamentos e palavras, sem perceber o tempo passar e sem viver intensamente cada instante. Olhemos para cima, olhemos para longe, olhemos para os nossos com olhar de presente e de futuro. Amemos agora, mas amemos amanhã também, fazendo hoje as melhores escolhas para o amor. Lembremos: somos do tamanho do que vemos, e ver ou não ver sempre será uma escolha nossa.
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