Francisco Osuna, sacerdote místico espanhol do período renascentista - séculos quinze e dezesseis - na sua grande obra “Abecedário terceiro”, afirma que:
“A primeira forma de orar, a que se situa no plano da fé, é como escrever a um amigo.
A segunda forma de orar, situada no plano da esperança, é como escrever a um amigo e esperar por uma resposta.
A terceira maneira de orar, situada no plano do amor, é como se fôssemos pessoalmente à casa desse amigo.”
A antiguidade do conceito - mais de quinhentos anos - é de grande utilidade, porque esse amigo é Deus, cuja oração deve ser-lhe dirigida.
Trata-se de um grito emocional na hora da aflição encaminhado ao Pai Criador, como um ato de irrestrita confiança.
Noutras vezes, é uma descarga de angústias que necessita de socorro imediato e, por fim, é um enlevo de gratidão em delícia de emoção.
Por isso a oração, de maneira alguma se circunscreve apenas ao ato da rogativa. Também é instrumento de louvação e, por fim, de júbilo pelo bem alcançado, em forma de reconhecimento.
Orar é romper as barreiras mentais limitadoras das emoções e necessidades imediatas para alcançar os altiplanos da vida.
Nem sempre é tão fácil a oração assinalada pela perfeita integração da criatura com o Criador.
A falta do hábito salutar interrompe o fluxo do pensamento e ideias extravagantes interferem no ato, dificultando a sintonia.
A insistência disciplinadora, mediante a criação de novo programa, termina por facultar a doce interação entre quem ora e o destinatário.
Quando a fé ora, uma vibração ascendente superior rompe as cristalizações mentais e abre o psiquismo ao Senhor.
Quando a esperança ora, há uma natural comunhão que devolve a onda de luz que beneficia quem faz a solicitação.
Quando é o amor que ora, sucede uma fusão de psiquismos que culminam no êxtase.
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Ainda associamos a oração a um ritual externo, a um endereçamento de palavras rebuscado, repleto de formalidades. São séculos e séculos de cultura arraigada na alma antiga.
Escrevemos a um Senhor que tememos, não conhecemos, e que mora muito longe...
Porém, quando desconstruirmos essa ideia – aos poucos, é claro – e transformarmos esse ato numa conversa de respeito, amizade e encanto, perceberemos que o Criador nunca esteve longe como imaginávamos. Nós é que criamos tal distância...
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A palavra religião pode ter duas principais raízes.
Para alguns pensadores, o termo latino religare teria criado a palavra religião, numa alusão à necessidade de uma religação com o Criador.
Para outros, o termo pode ter vindo da palavra relegere, que significa reler, revisitar, retomar o que estava largado.
Que nossa oração aprenda a encurtar caminhos.
Que nossa oração nos faça perceber o Pai em tudo e em todos.
Que nossa oração seja, por si só, remédio para os pensamentos deletérios que ainda reinam em nossas mentes agitadas e confusas.
Que nossa oração – tesouro que temos – nos possibilite caminhar com os pés limpos, mesmo ainda pisando os pântanos do mundo.
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