Portanto,
não espereis para começar o trabalho espiritual, o trabalho do pensamento, pois
será graças a ele que encontrareis as melhores soluções para todos os problemas
com que ireis deparar-vos. Não conteis com mais nada. Enquanto não
puserdes este trabalho em primeiro lugar, só tereis decepções, não conhecereis
nem a satisfação nem a plenitude.
Se interrogardes os
cristãos, eles dir-vos-ão que contam com o Senhor, com a Providência.
Mas
então por que é que eles estão sempre doentes, infelizes?
Por que é que o Bom Deus
não vem curá-los e fazê-los felizes?
Simplesmente
porque não pode; Ele não pode ajudá-los porque eles não plantaram nada, não
semearam nada que desse às forças do Universo um motivo suficiente para agirem. Eles
que lancem uma semente à terra e depois observem como a chuva e o sol vêm
fazê-la crescer...
Sim,
lançai uma semente à terra - simbolicamente falando - e todas as forças do Céu
e da terra estarão convosco, podereis contar com elas para obter resultados. O
trabalho do pensamento é a única coisa em que acredito; ele dá um sentido
divino a todas as actividades da vossa vida, tornando-as benéficas para vós e
para todas as criaturas do mundo.
Este
trabalho é que vos irá ajudar, apoiar e proteger.
Regra
geral, as actividades profissionais das pessoas só mexem com elas
superficialmente; ir à fábrica ou ao escritório, trabalhar num laboratório,
fazer política, tratar de doentes,.. está tudo muito bem, mas isso não pode
despertar as forças que o Criador nelas depositou, a não ser que ao mesmo
tempo, por intermédio do pensamento, elas façam um trabalho que toque as raízes
do seu ser.
Aprendei
a fazer este trabalho que dará resultados infinitos que ninguém poderá
tirar-vos, pois é um trabalho que realizais em vós mesmos, lá onde ninguém tem
acesso. Mesmo que tenhais uma profissão extremamente importante e
interessante, começai também este trabalho interior, que dará um sentido a tudo
o resto. Continuai com a vossa profissão, mas fazei este trabalho, pois ele
é o único susceptível de vos melhorar profundamente e de dar gosto a todas as
vossas actividades. Senão, pouco a pouco perdereis o gosto pelas coisas, e
perder o gosto é a maior das infelicidades!
Por isso vos digo, com
toda a franqueza, que para mim nada mais conta além deste trabalho, que podemos
fazer todos os dias e graças ao qual acabaremos por remexer todo o Universo.
Vou
dar-vos uma imagem.
Estais
à beira-mar e divertis-vos agitando a água com um pauzinho: ao fim de uns
instantes aparecem algumas palhinhas, depois umas rolhas e a seguir um
pedacinho de papel que começam a girar em círculo. Vós continuais e alguns
barquinhos também entram nesse movimento. Vós continuais... continuais...
e pouco depois já arrastastes os grandes paquetes e por fim o mundo
inteiro!
É
apenas uma questão de continuação.
Interpretemos
esta imagem.
O ser humano também está
mergulhado num oceano, o oceano etérico, cósmico, mas não sabe que movimentos
deve fazer para influenciar o seu meio e obter resultados. Pois bem, esses
movimentos são justamente o trabalho de que eu estou a falar. Quando
meditais, orais, comeis, vos lavais ou passeais, podeis aproveitar cada uma
dessas actividades para vos tornardes mais puros, mais luminosos, mais
inteligentes, mais fortes e mais saudáveis. Há tantas ocasiões em que
podeis acrescentar, pela palavra e pelo pensamento, um elemento susceptível de
vos trazer melhorias, a vós e a tudo o que vos rodeia!
Com o tempo, uma melhoria
interior acaba sempre por produzir também melhorias exteriores. Portanto,
é isto: o trabalho é que conta e, depois de ter descoberto o verdadeiro
trabalho, o discípulo nunca mais pára.
Eu
recordo-me de que, era eu ainda muito novo, o Mestre Peter Deunov tinha o
hábito de me repetir estas três palavras:
«Rabota, rabota, rabota. Vrémé,
vrémé, vrémé. Véra, véra, véra.»
Isto quer dizer: o
trabalho, o trabalho, o trabalho; o tempo, o tempo, o tempo; a fé, a fé, a fé.
Ele
nunca me explicou por que é que repetia estas três palavras, mas durante anos
aquilo preocupou-me e eu compreendi que ele tinha condensado nelas toda uma
filosofia, que é a seguinte: é necessário o trabalho, mas também a fé, para
desencadear e continuar esse trabalho, e sobretudo o tempo. Sim, é preciso
tempo!
Não
deveis julgar que tudo vai realizar-se de repente. Agora sei o que é
«vrémé»: os anos passaram e eu constato que «vrémé» é algo muito importante!
E
o trabalho?!...
Quanto
há ainda a dizer sobre esta palavra!
É
claro que os humanos trabalham, fazem uns trabalhos para ganhar a vida, mas
isso não é o trabalho mais importante. Eles semeiam, transpiram, cansam-se
e julgam que trabalham porque têm uma ocupação para garantir o pão de cada dia. Não,
eles ainda não começaram, pois o trabalho, tal como os Iniciados o compreendem,
é a actividade de um ser livre, é uma actividade nobre, grandiosa. O
trabalho espiritual subentende actividades de uma natureza particular.
Hoje
eu fiz-vos entrever pelo menos três desses trabalhos, mas há muitos mais à
vossa espera.