Não a conheço. Jamais a vira antes e, possivelmente, nesta cidade onde transitam milhares de pessoas, todos os dias, jamais tornarei a vê-la.
Ela transitava pela calçada, no sentido contrário ao da minha caminhada. O que me chamou a atenção foram seus cabelos de prata que admirei.
Seriam tingidos pelos dedos do tempo ou por produtos químicos?
Ao passar por mim, o rosto dela se iluminou, num sorriso aberto, espontâneo. Seus lábios se abriram e disseram com uma agradável entonação: Bom dia!
Senti uma vibração de paz invadir-me. Uma aura de harmonia abraçar-me. E, naquele átimo de segundo em que nos cruzamos, enquanto lhe respondia ao cumprimento, pude lhe ver o rosto.
As rugas haviam iniciado a desenhar arabescos em linhas suaves, denunciando o passar dos anos. Os olhos claros brilhavam na manhã ensolarada.
Gravei-lhe a expressão na memória.
Nestes dias de tanto atropelo, tanta pressa, em que as pessoas parecem correr como se desejassem recuperar minutos que já se foram, deparar com um rosto tão tranquilo, realmente, é inusitado.
Também encontrar alguém que deseje Bom dia! Com vontade, com sincero desejo de que seja um dia muito bom.
Nada mecânico. Nada convencional.
Continuei meu caminho quase num enlevo, envolvido nas vibrações harmônicas jorradas daquela expressão fisionômica tão serena.
Fiquei pensando em quantas pessoas ela haveria de encontrar em seu dia e para quantas a sua presença, o seu olhar, o seu sorriso ou o seu cumprimento fariam a grande diferença.
Como fizera comigo, em rápido segundo.
A quantas ela ofereceria aquele cumprimento tão especial. E não pude deixar de indagar a mim mesmo:
Terá ela saído de casa com esse propósito de iluminar as horas das pessoas que encontrasse? Ou aquilo lhe seria, simplesmente, a maneira natural de ser em sua vida?
Quantos de nós temos essa capacidade de beneficiar alguém com nossa presença? Capacidade para iluminar o dia, alegrar as horas de quem caminha ao nosso lado ou de quem, simplesmente, passa por nós.
Quantos de nós temos esse condão de tornar o dia de alguém muito diferente, melhor?
Transformar brumas em sol, nuvens em claridade, problemas em soluções.
Somente pode fazer sol quem tem raios de luz dentro de si.
Somente pode irradiar serenidade quem alcançou a harmonia interior, quem suplantou a si próprio e administra muito bem as dificuldades que se apresentam.
Alcançar esse estágio deveria ser uma meta para nós. Destoarmos no mundo. Sermos irradiadores do bem, do belo, das coisas positivas e grandiosas.
Para isso, basta-nos a vontade, o querer. Por isso, enquanto o dia canta esperanças, enquanto as horas se renovam, iniciemos nossa campanha particular, individual.
A campanha de fazer sol nas alheias vidas.
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