Quando minha irmã estava prestes a retornar de alguns anos de trabalho no Japão, ofereceu-se gentilmente para trazer de lá algo que me interessasse. Pedi a ela que me trouxesse dois sinos, um para eu usar em casa, outro para as minhas actividades na Sociedade Taoista.
No dia da sua chegada ao Brasil, preparamos uma pequena reunião familiar, para recebê-la e dar as boas vindas pelo seu retorno. Foi quando ela abriu as malas para distribuir os vários presentes que havia trazido do oriente. E foi quando ganhei os meus sinos!
Sem perder um segundo, abri o meu pacote e toquei o primeiro sino! Este primeiro toque conseguiu atrair a atenção de todos na sala, interrompendo por alguns instantes o alvoroço excitado da distribuição dos presentes.
Ficamos encantados com o som macio e aveludado que preencheu o ambiente, entendendo-se por um longo tempo. Ao fundo, parecia haver uma vibração aguda e sutil que perdurava, enquanto o som do sino desaparecia aos poucos.
Passado este breve momento de encantamento, todos voltaram à animação festiva da distribuição dos presentes. Todos menos uma pessoa...
Minha avó japonesa, Dona Umeko, não se mobilizou pela euforia que voltou a se instalar entre os familiares. Manteve-se tranquila e serena, observando-me manusear os novos sinos. Após perceber a minha própria excitação diminuir um pouco, disse-me baixinho:
"Quando a gente morre, precisa ir igual ao som do sino..."
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