O célebre artista japonês do século dezenove, Katsushika Hokusai, deixou um legado artístico memorável. Não apenas pela beleza das obras, mas por sua postura perante a arte. É dele a famosa série Trinta e seis vistas do monte Fuji, um conjunto de xilogravuras registando, de forma magistral, o citado monte em diferentes estações e de diversos locais distintos. A xilogravura conhecida como A grande onda de Kanagawa, está exposta atualmente no museu britânico. Hokusai deixou um interessante relato, quando estava com setenta e cinco anos de idade:
Desde a idade de seis anos eu tinha a mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos cinquenta, havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo o que produzi antes dos sessenta não deve ser levado em conta. Foi aos setenta e três que compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássaros, os peixes, os insetos. Em consequência, aos oitenta terei feito ainda mais progresso. Aos noventa, penetrarei o mistério das coisas. Aos cem, terei decididamente chegado a um grau de maravilha. E quando eu tiver cento e dez anos, para mim, seja um ponto, seja uma linha, tudo será vivo. O artista não chegou aos cento e dez anos de idade. Desencarnou aos oitenta e nove, mas o ponto principal é a sua noção de que somos perfectíveis, estamos em constante aprimoramento. Além de tudo, ele sabia também que a morte não seria o fim. Pouco antes de partir, em maio de 1849, deixou um haicai, um curtíssimo poema, que dizia:
Agora como Espírito
Devo atravessar
Os campos de verão.
Certamente, o artista continuou seu trabalho na nova esfera e ainda percebeu, com alegria, o quanto poderia crescer, o quanto poderia ir adiante. Todos precisamos dessa visão. E que ela não seja uma visão de desânimo, como quando se olha uma estrada longa pela frente pensando em tudo que falta. Que seja a visão da disposição, do ânimo do caminhante que não vê a hora de conhecer o que os novos caminhos trarão. Quem conhece e aceita a lei do progresso sabe que caminhamos sempre para frente; que, embora enfrentemos crises, elas nos empurram para diante. Progredir é inevitável. Quando e como será é decisão pessoal.
Haverá dia em que tudo será vivo, como afirmou o artista. Haverá dia em que estaremos próximos de Deus e entenderemos tudo com mais clareza.
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