A noite seguia festiva no amplo auditório da Universidade. Pais, familiares, amigos tomavam quase todas as poltronas.
A entrada dos formandos, um a um, sob os flashes dos fotógrafos, se sucedia, num mar de emoções.
Pais orgulhosos, lembrando as horas intermináveis de estudo, o esforço para a conquista do diploma universitário do filho;
Pais que mal continham as lágrimas, nas recordações dos pequenos há pouco e agora recebendo os louros de um curso concluído.
Havia esposos, namorados, padrinhos e madrinhas. E as manifestações de uns e outros, aconteciam, a cada formando que tomava assento no grande palco.
Depois, foram os discursos. E as homenagens aos professores, aos pais, aos colegas.
No entanto, houve um momento mais especial de todos os demais. Foi quando a festa transcendeu as paredes do auditório.
Transpôs fronteiras e estabeleceu uma ponte com a Espiritualidade. Anteriormente, o nome de Deus, o Senhor da vida, fora lembrado mais de uma vez.
Prece de gratidão se erguera e fossem religiosos ou não, os minutos se transformaram em envolvente vibração.
Então, o mestre de cerimónias anunciou que seria prestada uma homenagem aos que não estavam presentes.
As luzes se apagaram e todos foram convidados a acender a lanterna dos seus celulares. O ambiente parecia um céu de minúsculas estrelas brilhantes.
E, enquanto eram lembrados pais que haviam partido, uma esposa, um amigo, aquelas pequenas luzes brilhando, nas mãos que se movimentavam, diziam que eles, os invisíveis, estavam ali.
Sim, essa era a mensagem. Eles estavam invisíveis, mas presentes, ao lado dos seus amores.
Não houve quem não derramasse uma lágrima, furtiva que fosse.
As vozes embargadas das formandas, responsáveis pela homenagem, quase não conseguiam chegar ao final do texto previamente preparado.
Foram instantes de uma vivência espiritual. Instantes em que os dois mundos se interpenetraram e os do lado de cá nos demos conta disso.
Os mais sensíveis sentiram os abraços, os afagos dos que estavam na Espiritualidade.
Com certeza, foi o momento mais extraordinário daquela noite.
Como seria bom se repetíssemos mais vezes essas vivências, em nossas vidas. Se lembrássemos de estabelecer essa ponte de comunicação com os que se foram.
Afinal, a fronteira da Espiritualidade inicia exactamente quando finda a fronteira da vida material.
E bastará um pensamento de tempos felizes juntos vividos, para que façamos a conexão com as suas mentes.
Eles, como nós, sentem saudades. E, muitas vezes, nas horas do dia ou nas horas mortas da madrugada, nos procuram.
Não os sentimos, habitualmente, porque nos encontramos imersos em preocupações. Então, vez ou outra, permitamo-nos sentir abraçados por esses que prosseguem nos amando.
Porque o amor não acaba nunca. Não fica encerrado em uma urna ou vira cinzas.
A alma imortal leva consigo o perfume dos seus amores, a doce lembrança dos que ficaram e, de onde se encontra, envia seu carinho.
São como pequenos ramalhetes de delicadas flores que nos são endereçados.
Permitamo-nos sentir-lhes o perfume. Oremos. Pensemos neles, endereçando-lhes nosso amor, a eles, os invisíveis que estão connosco.
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