O perdão não visa o passado, muito mais o presente e o futuro, senão não é perdão de facto. Perdão não é estático, e reflete um compromisso renovado e dinâmico. Entre os humanos e com responsabilidade de lideres religiosos, as pessoas acomodaram-se através dos tempos a delegar essa responsabilidade aos sacerdotes e lideres religiosos, para perante um sancionamento proferido por estes, seja uma coima ou multa titulada como tributo à ordem, ou penalidade a cumprir, juntamente com uma recomendação obrigatória de algum tipo de cumprimento de dever religioso, como orações ou algum tipo de tarefa, os pecados depois de cobrados e confessados seriam inteiramente perdoados, ilibando dali em diante o transgressor, um tipo de um recomeço ou como se costuma dizer “reset”, o que permitia ao fiel ganhar um novo espirito de impunidade pelas faltas passadas. Um tipo de perdão muito próximo de incondicional ou mesmo perdão total, pela impunidade da consciência do neófito.
Para lá das motivações várias de tais práticas, dos interesses económicos, políticos, de manipulação, etc., na realidade os mais lesados seriam sempre os interesses espirituais, sedentos de compreensão, estimulados à não participação nos seus processos de consciência, ónus entregue quase na totalidade aos ditos sacerdotes.
O perdão enquanto força pura, oriunda de uma diminuição de inconsciência e simultânea elevação e aumento de nível de consciência, é considerada uma força poderosa no desenvolvimento humano, no seu aprimoramento e autoconhecimento, e se não descartada a responsabilidade de sua gestão emocional, é um veículo de empoderamento pessoal excecional, transformador de sociedades e de civilizações, por força da transformação no individuo.
O perdão desta forma compreendido, não se destina a inocentar um passado que em consciência se tem como danoso em algum momento, mas e sobretudo, através de sua força regeneradora, perdoar capacitando toda a atenção do individuo, para a sua dinâmica transformadora, baseada precisamente na queda que lhe deu origem.
Desta forma, muito bem provém da fonte de um mal. Logo, somente carregar consigo mesmo os episódios do mal, até que naturalmente se transmutem em bem, é definitivamente um processo para obtenção do benefício do perdão, porque não ficou lá atrás, num dado momento, mas é dinâmico, presente, e construtor de um presente e futuro continuamente reparador. Isso é perdão, o autêntico perdão que somente cada um pode obter , através de um compromisso continuo, e não somente a um dado momento, com algum tipo de ritual.
Perdoar é alterar os processos que acontecem, porque os que aconteceram já não dá para alterar, somente para aceitar que possivelmente, são esses episódios que estão na origem da compreensão, de um dia se ter afastado do caminho correto, e a consequente necessidade de o recuperar, esse sagrado equilíbrio que está na origem da saúde humana, de um estado harmonioso e da criatividade espiritual do individuo.
Parece uma redundância, mas uma enormíssima parte da humanidade ainda não percebeu esta dimensão do perdão, não será a hora chegada? - de crescer renovadamente sobre as feridas do passado, assumindo-as sem desculpa, ou pagamento, ou entrega a outro, e assim, nesse encontro repetido e doloroso, com um passado que não esteve perfeito, procurar assumidamente e humildemente, mudar comportamentos, de forma a não ocultar a própria consciência, que afinal se constitui de uma linguagem divina e solar, a única que pode fazer um homem feliz e realizado…
"Não basta compreenderdes intelectualmente as coisas e depois serdes capazes de expor brilhantemente o que compreendestes. Precisais de trabalhar para que essa compreensão desça às manifestações da vossa vida quotidiana. São os vossos atos, os vossos gestos, o vosso comportamento na vida, que devem demonstrar o que compreendestes, não as vossas palavras.
Por enquanto, ainda é às pessoas instruídas, aos letrados, aos eruditos, que é dada proeminência. Mas, no futuro, isso mudará, e todos se inclinarão perante aqueles que tiverem trabalhado para desenvolver qualidades de bondade, de indulgência, de pureza, de integridade, e para as manifestar. É frequente os seres que possuem estas qualidades serem desprezados, porque se ignora que elas resultam de uma profunda compreensão da vida. De agora em diante, procurai apreciar esses seres e, sobretudo, imitá-los. Omraam Mikhaël Aïvanhov"
Sem comentários:
Enviar um comentário