Sou movido pelo desejo de fazer coisas grandiosas. Às vezes tenho um vislumbre, de relance, rápido e fugaz como uma fagulha, desse desejo. É como se de repente eu tivesse uma consciência do que realmente sou; que me conhecesse como sou conhecido, mas é tudo muito ligeiro e nublado; e num átimo mergulho de volta à penumbra da ignorância, da turbidez e da escravidão de mim mesmo. Por um fragmento de tempo me sinto como um peixe que salta à tona e assombrado com que vê, retorna às profundezas não podendo, ainda que a querer, permanecer um momento mais sequer além da superfície.
Mas esse momento infinitesimal, essa partícula de consciência que se desabrocha diante dos meus olhos por um tempo tão insignificante que faz do piscar quase uma eternidade, é suficiente para perturbar meu espírito e me atormentar pelo que sou ou pelo que não consigo ser.
Pergunto-me, como manter o entusiasmo sem esse desejo? Como vencer a inércia e realizar grandes coisas sem desejar realizá-las? Como superar a minha decrepitude, a minha tibieza e esvaziar-me de mim mesmo para realizar grandes coisas não por serem grandes, mas por ser necessário que se realizem?
Sim, elas são necessárias. Ele conta connosco! Não que precise de nós, mas quer que as façamos. Talvez seja melhor fazê-las desejando-as, do que não deseja-las e por isso não fazê-las. Mas é preciso que se entenda onde está o desejo! O desejo não está em querer fazê-las. Está em querer ser grandioso fazendo-as. Que fraqueza, meu Deus! Que grotesco! Às vezes tenho asco de mim mesmo! Pobre de mim, preso num beco onde minhas escolhas são fazê-las sendo soberbo ou ser imóvel sendo humilde.
É preciso um esforço para fazê-las na humildade, porém nada está assegurado. A vigilância é constante, entretanto como vigiar constantemente sem poder estar constantemente a vigiar?
Que tortura! Que tristeza! Talvez não seja possível. Não, com certeza não é humanamente possível; Não humanamente!
Fernando Paiser
Coordenador Nacional
Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton
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