A doutora Leandra, logo que saiu da residência médica, foi trabalhar num Pronto-Socorro de uma pequena comunidade, na Califórnia. No primeiro Natal, por ser novata, foi escalada para o plantão. Um tanto contrafeita, despediu-se da família e foi para o hospital.
Às 21h, a ambulância chegou trazendo um senhor de uns sessenta anos, com ataque cardíaco. Seu rosto estava pálido, acinzentado, e ele parecia muito assustado. Após os procedimentos de emergência, a doutora o transferiu para a U C I.
No dia seguinte, antes de retornar ao lar, ela foi saber como ele estava. O estado ainda era grave, mas ele sobrevivera e agora dormia. Ela nunca mais teve contato com ele, porque Pronto-Socorro é assim. Os doentes graves, os feridos chegam, muitas vezes apavorados, são atendidos e se vão.
Na véspera do Natal do ano seguinte, novamente Leandra foi escalada para o plantão. Exatamente às 21h, ela foi chamada pela atendente de enfermagem. Um casal desejava-lhe falar. O senhor, que se apresentou como Lee, disse-lhe:
A Dra. provavelmente não se lembra de mim mas, na véspera do Natal passado salvou a minha vida. Obrigado pelo ano que me deu. O casal a abraçou, deixou-lhe um presente e se foi. A doutora ficou surpresa e comovida.
No ano seguinte, ela fez questão de fazer o plantão. Queria ver se o casal voltaria. Exatamente às 21h, os Lee chegaram, trazendo o mais novo neto nos braços. Ela foi abraçada. Eles prometeram que retornariam para vê-la, em todas as vésperas de Natal. Se ele não aparecesse, ela saberia que ele morrera. Durante as treze vésperas de Natal seguintes, o senhor Lee e a esposa vieram, sempre às 21h.
Todo o hospital sabia da história e os colegas davam um jeito para que ela ficasse em torno de meia hora com eles, na sala de descanso. Nesse tempo, ele trouxe, num dos Natais, outro neto e um bisneto. E a cada Natal, ela ganhava um mimo, símbolo da gratidão de um homem e sua esposa.
No último Natal, ele trouxe um presente todo especial. Ela desembrulhou o pacote e encontrou um sino de cristal, com uma única palavra gravada: Amizade.
No ano seguinte, ele não voltou, pois fizera a grande viagem, rumo à pátria espiritual. A doutora mudou-se, algum tempo depois, para o Estado do Colorado, nos Estados Unidos. Porém, todos os anos, a cada véspera de Natal, exatamente às 21 h, ela toca o pequeno sino de cristal e recorda do homem que nunca se esqueceu de agradecer.
* * *
Naturalmente, quando se está cumprindo o dever profissional, não se aguarda gratidão. Executa-se o melhor porque isso nos realiza, na qualidade de profissionais. Contudo, quando em nossa jornada encontramos pessoas como o senhor Lee, que sabe agradecer, reconhecendo o nosso esforço, nossa vida adquire sentido mais amplo. Saber que para alguém fizemos a diferença nos engalana a alma de felicidade e nos estimula a que mais nos dediquemos na causa a que nos entregamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário