Cena curiosa à beira do caminho. Duas árvores, duas cerejeiras plantadas no canteiro, próximo à calçada. Uma delas exuberante, repleta de vermelho, cheia de vida e chamando a atenção de quem passa. A outra, no entanto, a menos de cinco passos de distância, de aparência absolutamente oposta, totalmente seca, mirrada, como se estivesse morta. Causa estranhamento à vista de uns, causa pena a outros, olhar aquelas obras de Deus, assim, em desigualdade tão grande.
Estão no mesmo solo, recebem a mesma rega, o mesmo sol, mas tão distintas uma da outra. Um enigma. O tempo, contudo, tudo esclarece. As semanas passam, e o mistério é esclarecido. Quem olha com atenção, percebe que algo mudou significativamente: a bela cerejeira que antes estava florida, agora está desnuda, sem cores. E aquela que antes inspirava piedade, agora está deslumbrante e colorida. Cada uma teve seu tempo, cada uma realizou seu ciclo anual, em momento distinto, e ambas trouxeram beleza ao mundo da mesma forma.
Companheiros de coração endurecido, que se mostram insensíveis às dores alheias e que, muitas vezes, tornam a existência dos que os cercam um verdadeiro caos, também irão florir em seu tempo. Alguns, inclusive, podem até se manter como árvores secas durante uma ou algumas encarnações. Sua floração virá bem mais tarde. As semanas das árvores do caminho são séculos, milênios, por vezes, para as almas imortais. Por isso, saibamos cuidar e julgar com maturidade.
Em algumas ocasiões, agimos como o motorista apressado que, ao observar as duas árvores tão diferentes, logo conclui: Uma deu certo, a outra não! Ou ainda: Uma está viva, a outra morreu. A natureza é muito mais sábia do que imaginamos. Ela nos ensina a esperar e a saber olhar. Importante cuidarmos com os rótulos apressados. Pau que nasce torto pode sim, se endireitar. Aliás, nasceu justamente para isso. E ainda, não nasceu torto por um capricho da natureza, mas porque se tornou torto no passado. Rótulos são perigosos. Atrapalham e nada ajudam.
Todos têm jeito. Todos podem florir e vão florir. Talvez apenas não no tempo que nós esperamos ou que o mundo exige. Lembrando das árvores do caminho, aprendamos com a sabedoria do tempo. Olhemos mais vezes, olhemos o filme e não apenas a fotografia. Que a natureza continue nos ensinando e nos oferecendo essa visão ampla das coisas. Percebamos que na natureza nada é apressado, nada é instantâneo. Tudo se constrói, tudo se conquista. As leis divinas, que regem os mundos, são sábias. Aprendamos com elas. E, da próxima vez que observarmos uma árvore sem flores ou mesmo uma alma seca pelo caminho, recordemos das duas cerejeiras.
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