Uma reunião com índios americanos revela um ensinamento importante e urgente. Agrupados os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Todos calados à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem.
Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. Esses pensamentos são estranhos aos demais. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se alguém falar logo a seguir, são duas as possibilidades que se pode pensar.
Primeira: quem falou está dizendo: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua fala.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, está se chamando o outro de tolo. O que é pior do que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz silêncio dentro, começa-se a ouvir coisas que não se ouvia.
A postura humilde de quem ouve, de quem presta atenção nas palavras do outro, do que o outro diz ou não diz, é a postura do homem de bem. Ninguém se educa, ninguém cresce, se não aprende a escutar.
Alberto Caieiro dizia que não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma. Silêncio dentro da alma significa que os pensamentos devem emudecer de quando em vez. As ideias preconcebidas, a tal maneira como sempre pensei, devem calar um pouco, e considerar algo distinto, saborear o novo. Todos os grandes da Terra souberam ouvir, souberam se desprender de suas ideias e considerar novas, considerar o algo mais. Grandes escritores são antes grandes leitores. Sabem escutar outros livros, antes de recitar os seus próprios. Que possamos aprender a ouvir mais, a respeitar mais a opinião do outro, e assim aprender com todos, independente se sabem mais ou menos do que nós. Exercitemos a tal escutatória e cultivemos o silêncio na alma, nos pensamentos.
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