Hoje
sinto falta da melodia monótona que segredavas ao rezar. A repetição pausada,
quase adormecida, de palavras quase mortas de cansaço, quase desfeitas.
Sinto
falta de mim ao lado da ladainha que dizias ao fim do dia.
Sinto
falta de ser essa criança que aceitava, serena, o que não entendia.
Hoje,
que penso entender tanta coisa, entendo mais que nunca que sinto falta de mim
nas tuas orações sofridas, minha avó.
Sinto
falta da fé sem questionamentos nem conhecimentos. Sinto medo. Sinto a
escuridão de quem não sabe acender uma vela e rezar pelas alminhas de outro
mundo.
Sinto
medo de chorar, sinto medo de falhar, sinto medo de rezar e sinto medo até de ser
feliz demais... Tudo porque nunca mais senti essa paz antes de dormir.
Sinto
falta de ti, de nós, aqui nesta espécie de oração inacabada, teclada sem a
nossa voz, sem a nossa fé, sem a luz da lamparina que iluminava o nosso
quarto...
Apenas
um desabafo de saudade angustiada.
Ana Homem de Albergaria
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