Eu estava à margem do lago da Galileia quando vi pela primeira vez Jesus, meu Senhor e meu Mestre. Meu irmão André estava comigo. Jogávamos nossa rede nas águas. Como as ondas estavam altas e fortes, pegávamos poucos peixes. Isso nos entristecia. De repente, Jesus apareceu do nosso lado, como se tivesse Se materializado naquele mesmo instante, pois não O vimos se aproximar. Chamou-nos por nossos nomes e disse:
“Se me seguirdes, vos conduzirei a uma enseada cheia de peixes.”
Ao olhar para Seu rosto, a rede caiu de minhas mãos, pois uma chama se acendeu dentro de mim e O reconheci.
“Conhecemos todas as enseadas desta costa” – disse meu irmão André. “Sabemos que num dia de vento como este os peixes buscam uma profundidade que está além do alcance de nossas redes.”
“Segui-me até a orla de um mar maior. Farei de vós pescadores de homens. Vossa rede jamais ficará vazia.”
Abandonamos nosso barco e nossa rede e O seguimos. Pessoalmente, fui atraído por uma força invisível que O acompanhava. Caminhei a Seu lado, com uma emoção de tirar o fôlego, completamente embevecido, e meu irmão André vinha atrás, impressionado. Enquanto andávamos na areia, tomei coragem e disse a Ele:
“Senhor, eu e meu irmão seguiremos Teus passos aonde quer que vás.”
Pedro relata, emocionado, seu primeiro encontro com Jesus. A sua humildade e de seu irmão deve ser exemplo para nós. Eram pescadores experientes, conheciam aquelas águas e o comportamento dos peixes, mas, diante de Alguém Maior, simplesmente ouviram. Sentiram, no profundo da alma, que Aquele Visitante era diferente. E confiaram. Ele entendia de peixes, de oceanos, e muito mais. A pesca era a atividade de subsistência daqueles homens simples. Era tudo que possuíam para garantir a vida material da família e, mesmo assim, perceberam que a proposta d´Aquele Homem era muito maior. Será que estaríamos preparados para ouvir uma proposta como essa?
Será que estaríamos preparados, hoje, para abandonar nossa rede e nosso barco e seguir Jesus?
Não nos referimos aqui ao abandono do emprego, a deixar ao acaso os que dependem de nós, de forma alguma. Não é isso. É um outro tipo de deixar a rede e o barco. É muito mais uma atitude íntima de confiança, de dar prioridade a outras áreas da vida. Deixar a rede e o barco talvez possa ser entendido como dar mais valor às questões do Espírito do que às da matéria. Fazer isso com ações, com ajustes nos passos, nas escolhas e no modo de viver. Não permitir que sejamos iludidos pelos valores impermanentes do mundo e seus tantos atrativos, que nos tomam muitas energias. Não permitir que as preocupações da esfera da subsistência material nos tire o sono refazedor, nos leve para longe dos nossos amores e nos prive de momentos tão valiosos da existência. Pensemos: se hoje recebêssemos essa proposta de deixar a nossa rede e o nosso barco, o que isso poderia significar para cada um de nós.
Lembrando que a proposta não vem de uma nova seita, de um modismo. Ela vem d´Aquele em Quem mais confiamos, nosso Exemplo e Guia: é uma proposta de Jesus.
Filhos da Luz? Nós, que nos sentimos ainda tateando em sombras densas?
Andar no mundo como Filhos da Luz, enquanto temos luz? De que luz dispomos? De que intensidade é nossa luz?
Então, nos lembramos do valor de um fósforo em plena escuridão. Quando a escuridão se faz porque a energia elétrica sofre uma avaria, como a luz débil de um fósforo faz a grande diferença. Disse alguém que nos podemos considerar como um fósforo aceso. Sim, a chama não ilumina grande distância, mas faz a diferença entre a escuridão total e uma pequena claridade. Claridade que nos retira, por breves segundos, embora, da insegurança total das trevas. Claridade que nos permite ver o outro, perceber que não estamos sós, que mais alguém compartilha conosco daquela situação. E nos darmos as mãos. Claridade que nos permite ir buscar uma lanterna, uma vela, um lampião. Ou, se nada disso tiver por perto, acender um outro fósforo. E outro, e mais outro. Quem sabe, fazer um clarão maior, enquanto a energia elétrica não se restaura.
E em se tratando da sociedade, podemos imaginar o mesmo valor dessa pequena luz. Se somos um fósforo de dignidade que se acende quando a corrupção anda à solta, fazemos a diferença. Porque a nossa chama mostra a outros o nosso valor e motiva a que os demais resolvam acender a sua própria chama. Se, em meio à indiferença geral, somos o fósforo que aquece a alma e a vida de quem sofre; se, em meio à covardia moral, mostramos a luz da correta conduta; se, enfim, somos a pequenina chama da amizade, da justiça, da fé, quanta luz espalharemos por onde passarmos?
Tinha, portanto, toda razão Jesus ao nos estimular a andar no mundo como Filhos da Luz, andar enquanto tivermos luz.
Sem comentários:
Enviar um comentário