Quando o sol parece castigar a terra com a intensidade dos seus raios, habitualmente, amados e desejados; quando os dias se sucedem, muito quentes, parecendo que a atmosfera se torna quase insuportável; quando a terra vai se abrindo em frinchas, parecendo gemer em sentimento de dor; quando as plantas se deitam sobre o solo, por não conseguirem manter a altivez, pela desidratação sofrida; quando parece que tudo queimará, secará, findará...
Pensamos nos campos semeados e nos perguntamos se os grãos conseguirão tomar forma, crescer e amadurecer, para abastecer as nossas mesas. Olhamos para as árvores e nos indagamos se haverá floração para que se transforme em abençoados frutos. Contemplamos os tímidos filetes d’água, aqui e ali, onde antes se agitavam caudalosos rios, povoados por peixes de variadas espécies. Adiante, o leito seco deixa entrever as pedras nuas, brilhando ao sol. Aqui e ali um tronco de árvore deitado, como quem se tivesse agachado para sorver uma última gota d´água do solo seco. O abastecimento nas residências, fábricas e hospitais sofre interrupções, com danos para a indústria, a saúde, a higiene. Então, quando o céu escurece e nuvens escuras se apresentam, todos os olhos se fixam nelas.
Aguardamos. Aguardamos a chuva que, por vezes, desaba forte, tempestuosa. Seu primeiro objetivo é lavar a atmosfera para que se torne respirável, leve. E quando as águas atingem o solo, é uma sinfonia, um concerto inigualável de sons. É o barulho da terra, sorvendo o líquido em largos goles, os rios desejando alargar as margens para a receção mais ampla. As cascatas voltam a cantar, as fontes brilham. As plantas bebem por todas as dimensões de si mesmas. As aves observam dos seus ninhos, os animais de suas tocas, alguns se precipitando para fora para se deixarem banhar...
Sentimos a leveza do ar, depois da chuva torrencial, e agradecemos pelo reabastecimento que se fará gradual, na constância da sua presença. Chuva, generosa chuva. Violenta ou branda, caindo mansa, é um benefício. Quanto dependemos dela.
Imitemos a natureza, convertendo-nos em vida para nosso semelhante, como chuva generosa...